Depois de
uma década de ausência, Mel Gibson voltou à direção com o filme Hacksaw Ridge,
que podemos literalmente traduzir como Montanha ou Morro do Serrote, mas
certamente terá um título mais dramático aqui no Brasil. O filme recebeu uma
ovação de 10 minutos na première do
filme no Festival de Veneza, com críticas muito boas.
Andrew Garfield como Desmond Doss |
Andrew Garfield (que, em
breve, também vai aparecer no filme Silêncio de Martin
Scorcese, como um padre
missionário português no Japão) interpreta o soldado Desmond Doss, um soldado
condecorado na 2ª Guerra Mundial, que se recusava a matar e a carregar uma
arma. Ela era Adventista.
Depois
dos episódios de comentários antissemitas, proferidos por um dia de bebedeira e
daí sendo colocado de lado pela indústria do cinema, Gibson parece estar de
volta ao seu lugar na mesa. Sua habilidade como cineasta, desde a sua transição
de super astro a diretor jamais esteve em discussão, mas já faz 10 anos que ele
dirigiu Apocalypto, vinte e um anos desde Coração Valente, quando ganhou Oscar
de melhor diretor e filme e há 14 anos desde que a Paixão de Cristo se tornou o
filme independente que mais faturou em todos os tempos.
Gibson é
entrevistado longamente pelo site Deadline. Seguem alguns pedaços dessa longa entrevista.
Depois de
10 anos longe da direção, o que significou para você, quando o filme Hacksaw Ridge obteve uma
ovação de pé por 10 minutos, nesse último fim de semana?
GIBSON: Fiquei muito contente pela
recepção em Veneza. Poder compartilhar com o elenco foi muito especial, pois é
esforço de colaboração de cada pessoa e equipe que contribuíram com esse
aplauso. Não faço filmes para a elite, assim ter essa grande audiência na sala
de exibição e na reação que provocou, foi muito gratificante para dizer o
mínimo.
Já tinha
levado algum filme antes para Veneza?
GIBSON: Acho que foi um dos filmes de
Mad Max. Eu me lembro de que encontrei o Kevin Costner no Lido e fomos andar de
bicicleta. Nós descobrimos uma que não estava presa com corrente e nós a
emprestamos. Ele pedalava e eu na cestinha da bicicleta, como no filme ET. Deve
ter parecido tão idiota, mas conversamos bastante sobre filmes e outras coisas.
Está aí uma pessoa que gostaria de ver dirigir novamente.
Os filmes
que dirigiu como Coração Valente e Apocalypto, tinham protagonistas que se
engajavam em violência. Desmond Doss, nesse filme Hacksaw Ridge, é o extremo oposto. O que te despertou na
história desse soldado?
Mel Gibson em Coração Valente |
GIBSON: Foi o que me impressionou mais do que tudo. Ele
não carregava uma arma, nunca deu um tiro e acreditava que era errado matar sob
qualquer circunstância. Mas ele tinha coragem de ir para o pior lugar que você
possa imaginar e firme em suas convicções, armado com nada mais que a pura fé.
E ele não fez apenas na decisão de um momento. Ele fez e fez várias vezes. Ele
o fez também em batalhas diferentes também. Em locais como Guam e nas Filipinas, ele
sempre se arrastava em direção ao inimigo para buscar os companheiros feridos.
Eles diziam para ele não ir, mas ele era do tipo que se alguém está com
problema lá na frente, eu tenho que busca-los. E ia busca-los e sem levar uma
arma. Ele era convicto de seus princípios em relação a armas, mesmo frente às piores
condições. Foi pior na vida real do que eu retratei no filme.
Você o
mostra sendo surrado nos alojamentos dos soldados.
GIBSON: Foi pior que aquilo. Ele foi discriminado
mais do que eu filmei. Ele sofreu bastante. Muitos amigos não sabiam que ele
podia aguentar aquilo. Ele era duro.
Como foi
para buscar fundos para um filme de guerra, onde o herói não toca uma arma?
GIBSON: Não foi difícil, porque o produtor,
Bill Mechanic, já está nessa lida há 15 anos. Sabia que o famoso produtor Hall
Wallis tentou obter os direitos para essa história nos anos 40. Até mandaram o
ator Audie Murphy (que também foi veterano e condecorado na guerra) para
conversar com Desmond Doss para ver se ele conseguia convencê-lo a dar a eles
os direitos para o filme. Ele disse que não estava à venda. Ele era um
fazendeiro. Plantava vegetais. Nunca tinha ido ao cinema
O que fez
ele mudar de ideia?
GIBSON: Eu acho que, nos últimos anos
de sua vida, os membros da sua congregação apelaram para que ele realmente
contasse sua história, pois seria inspiradora para outras pessoas. Quando ele
acabou falando sobre seu tempo na guerra, isso acabou levando outros médicos a
fazerem o mesmo em batalhas, por causa da inspiração em Desmond. Assim, ele
pensou que seria um modo de falar sobre convicções, fé e coragem. Ele não se
via como um herói, mas as pessoas como ele não se veem como heróis. Ele não
queria contar bravatas sobre isso ou mesmo falar muito sobre isso, mas no
final, os anciões da congregação dele insistiram para que ele desse os
direitos. Ele disse, talvez quando eu morrer. Eles fizeram um documentário
sobre ele.
Isso fez
a narrativa ser possível?
GIBSON: Sim. Ele confiou os direitos
vitalícios para os membros da sua igreja. Depois, Bob Mechanic foi ter com eles
e disse: “Olha, vocês me passam os direitos e eu prometo que farei a coisa
certa”. Nós mostramos a todos eles, ao Conselho de Desmond Doss dos Adventistas
do Sétimo dia. Eles aprovaram.
Não foi o
Bob Mechanic o executivo que deu a Fox os direitos internacionais de Coração
Valente, ajudando assim o filme a ser possível?
GIBSON: Exato. Ele ofereceu a parte
internacional. Não se diz mais estrangeiro. Se diz internacional.
Até
Coração Valente foi difícil de bancar?
GIBSON: Nada deste tipo de coisa é
fácil. Nunca é. Eu quero dizer que as pessoas olham depois que é muito bom, mas
muitas vezes não parece tão bom na ideia inicial. Neste filme, Bill gastou 15
anos do seu tempo. Ele até me mandou o script por duas vezes antes. Eu passei para
frente nessas duas vezes.
É incomum para você voltar atrás após uma
negativa?
GIBSON: Bom, eu fiz isso com Coração
Valente. Passei adiante. Até gostei e achei que talvez. Por uma razão ou outra.
Depois, foi como aconteceu com este filme. As coisas começam a aparecer de novo
e você agora começa a visualizar como seria. Eles não ofereceram Coração
Valente para eu dirigir. Eles me ofereceram para atuar nele.
Eles
queriam que você interpretasse William Wallace.
GIBSON: Isso. Mas depois eu comecei a
visualizar o filme, muito. Pensei como seria legal fazê-lo. Você tem algumas
ideias de cenas na cabeça e visualiza o que você queria ver. Dois anos depois,
eu tinha acabado um filme e alguém disse: o que quer fazer agora? Tem um
roteiro que eu li um tempo atrás, passei para frente, mas eu gostei dele. Essa
pessoa disse do que se tratava. Descrevi a estória toda para ele de memória,
mas disse a ele das ideias da minha cabeça. Ele depois leu o script e disse que
era muito bom, mas o que eu disse era diferente. Aí, eu li de novo e pensei: eu
tenho que fazer isso. E assim foi.
Em Hacksaw Ridge há uma
evolução no filme até a batalha do título, mas as cenas de guerra são tão
estonteantes e desorientadoras, como pode ser lembrado das cenas de praia do
filme O Resgate do Soldado Ryan. Como você fez isso com $40 milhões?
GIBSON: Tem que trabalhar com um doido.
Todos são bons no seu trabalho e fazem tudo com menos e você usa alguns
atalhos. Há coisas que eu queria fazer, mas não fiz.
Como
quais?
GIBSON: Bom, você estava dizendo como
foi intenso. Eu queria entrar nisso mais. Levaria mais tempo que dinheiro.
Tinha algumas ideias que eram realmente malucas. Investigar a área entre o
homem e a bala. Apenas entrar nisso. Mas seria bastante visual, você entende
que é realista e faz as devidas edições. Mas muito mais poderia levar para um
extremo perigoso.
Quem está
se interessando pelo filme?
GIBSON: Experimentamos duas vezes e acho
que todo mundo gostou. As mulheres gostaram mais do que os homens.
Por quê?
GIBSON: Acho que devido ao aspecto do
romance e a garota, interpretada por Teresa Palmer. Acho que as mulheres são,
como seres humanos, mais afetivas. Assim, você vê um homem fazendo aquilo que
eu acho que sensibiliza a pessoa. Eu quero dizer que a maioria das mulheres se
torna mãe em algum ponto. Elas estão sendo afetivas. Esse personagem era tão
afetivo como uma mãe. Assim, eu acho que toca as mulheres.
Você foi
para a Austrália para produzir esse filme por 40 milhões? Quando foi a última
vez que filmou lá? Mad Max?
GIBSON: Sim, foi quando eu tinha 28
anos, são 30 anos atrás. Me senti bem em ir para lá fazer o filme. Tivemos
algumas vantagens por ser um filme totalmente australiano. Todos os atores são
australianos, exceto Andrew e Vince Vaughn. Assim, a produção é de um filme
australiano, mas uma história americana, que é meio incomum.
Você fez Apocalypto por cerca de $30
milhões?
GIBSON: Um pouco mais que isso.
O que
você acha quando lê que todos esses grandes filmes por aí ultimamente que chegam
a custar $200 milhões ou mais? Tem que ser tão caro?
GIBSON: Acredito que não. Eu olho para
eles e coço minha cabeça. Ficou realmente perplexo. Acho que há muito desperdício,
mas talvez se eu fizesse algumas dessas coisas com as telas verdes (para efeito
especial) eu pensaria diferente. Não sei. Talvez eles custem muito mesmo. Não
sei. Me parece que você poderia fazê-los por menos dinheiro.
Se tiver sucesso, a recompensa será enorme,
mas você tem que ganhar muito dinheiro para empatar com os custos.
GIBSON: O jogo é esse, não é?
Mas um
bom jogo?
GIBSON: Bem, eu quero dizer que se
estiver gastando montanhas de dinheiro, $180 milhões ou mais, não sei como dar
todo o retorno depois que o Leão pega o imposto e depois que você dá metade
para os exibidores. Quanto eles gastaram com Batman vs. Super-Homem e que
admitem?
Eu diria $250
milhões. Depois, você tem o marketing.
GIBSON: E é um monte de m..da.
Não foi muito
divertido.
GIBSON: Não me interesso pelo tema.
Sabe qual a diferença entre os verdadeiros super-heróis e os dos gibis? Os
verdadeiros super-heróis não usavam spandex (elastano, que os atores usam nas
roupas dos super-heróis.). Assim, eu não sei. Spandex deve custar muito.
O campo
de batalha do seu filme foi terrível. Da mesma forma com Coração Valente, que
pareceu passar adiante o estilo de outras tantas batalhas medievais, incluindo
O Senhor dos Anéis e Game of Thrones. No filme agora, é diferente, com tiros de
armas e explosivos. Qual o grande desafio de fazer esse tipo de cenas épicas de
batalhas?
GIBSON: Deve se manter a segurança, mas
ao mesmo tempo fazer parecer tudo incrivelmente insano e verdadeiro. Uma concentração
de tiros e explosivos fazendo parecer real e não machucar ninguém. Tem um pouco
de efeitos especiais, mas a maioria da pirotecnia está lá e os explosivos são
reais. Quando você vê os soldados terem suas pernas despedaçadas, é real. Eles
têm aparelhos agora em que você anda por eles e eles explodem. Coisa de louco.
Eu vi outros filmes de guerra e há muito poucas explosões, porque elas são
reais e perigosas. As coisas que usamos, você as vê estourando assustadoramente.
Pessoas pegando fogo. Isso já se fazia, mas eles estão melhorando bastante com
as vestes de neoprene que eles usam. Toda aquela pirotecnia é real. Os
japoneses a chamavam de chuva de aço.
Essa foi
a estratégia de batalha?
GIBSON: A chuva de aço. Ela vem de
ambos os lados. Eles chamavam de chuva de aço e foi o primeiro uso real de
napalm. Assim, quando eles estavam jogando nos soldados a gasolina, foi bastante
ruim. Eles tinham que usar por causa das cavernas e o material subterrâneo e se
tornou uma arma muito temida. A logística de se filmar isso com todo o
tiroteio, com as explosões, com os lança-chamas, a intensidade da batalha, eu
acho, entra tudo nisso. E eu me matei para colocar tudo isso, em 59 dias. Quase
30 disso foram em combate.
Você fez
filmes com diretores australianos, como George Miller e Peter Weir. Você
pensava em dirigir quando ainda era jovem e trabalhava com essas pessoas?
GIBSON: Ah, sim, eu absorvia tudo.
George é um doutor e ele tinha a persona do Einstein, quando ele ia a lugares
onde costumava ir como o mesmo terno oito vezes, assim ele não tinha que pensar
no que ele iria vestir. Ele é um pouco excêntrico, mas é um cara legal. A melhor
coisa sobre ele é que é generoso. Eu fazia um monte de perguntas. O que estamos
fazendo aqui? Ele parava e explicava porque ele adora o processo e adora
compartilhar. Assim com um cara desses, eu aproveitava tudo como uma esponja.
Eu tinha 22 anos e só absorvendo. Trabalhei com ele três vezes e sempre fazia
perguntas. Depois, é claro que trabalhei com Peter Weir. Cineastas
completamente diferentes.
Gallipoli, O Ano em que vivemos
perigosamente.
GIBSON: Há algo etéreo sobre ele. Ambos
são excelentes diretores, mas são tão diferentes, que significou algo para mim.
Não há maneira de alcançar a excelência. Ele era também muito generoso em suas
explicações e descrições. Suas explicações não eram matemáticas, elas eram mais
espirituais. Foi muito interessante. Essas são as pessoas com que aprendi
quando era jovem. Como você pode fazer algo melhor que esses dois caras? Todos
com quem trabalhei depois, foi o mesmo. Eu estava sendo querendo entender o que
faziam e perguntava um monte de coisas. Richard Donner era fantástico. Ele
sempre se denegria. Sou apenas um policial de trânsito era o que ele dizia. Mas
ele era muito brilhante. Ele conhece a estrutura. Ele sabe como filmar algo.
Ele sabe como fazer engraçado. Ele sabe como levar adiante e manter a energia.
Então
você aprendeu com eles, mas que salto, hein, depois de Um Homem sem Face até
Coração Valente, depois Apocalypto e agora Hacksaw Ridge.
GIBSON: Eu queria mostrar às pessoas
coisas que nunca viram antes, coisas que eu queria ver e pensava que poderia
conseguir. Eu achava que se conseguisse chegar à metade, já seria bom.
John Wayne em Iwo Jima |
Quais os
filmes de guerra que te marcaram?
GIBSON: Eu gosto de Iwo Jima- O Portal
da Glória (Sands of Iwo Jima, 1949). E você já viu um filme chamado Um Punhado
de Bravos (Objective Burma, 1945) ?
Não.
Errol Flynn à esquerda em Um Punhado de Bravos |
GIBSON: Eu adoro esse filme e como lida
com a guerra no Pacífico, em tentar ver por que ocorreu. As coisas eram
bastante censuradas naquele tempo e você não podia mostrar muitas coisas
terríveis, mas era que meio sugerido. Raoul Walsh dirigiu o filme com o Errol
Flynn atuando. Ele salta de paraquedas em Burma (hoje Birmânia ou Myanmar, ao
lado da Tailândia), com a esperança de destruir uma importante base de radar. A
missão é um sucesso, mas o grupo alcança a faixa de terra onde eles esperavam
encontrar aviões prontos para voa-los de volta à segurança. Raoul foi um dos
grandes diretores. Ele usava um tapa olho, como um pirata. Walsh fez ótimos
filmes.
Andrew
Garfield é mais conhecido por Homem Aranha, mas mostrou uma empatia no filme Rapaz
A (de 2007). O que fez o colocar no seu radar?
GIBSON: A primeira vez que vi Andrew
foi em A Rede Social. Eu me lembro de que ele teve uma parcela menor no filme,
mas foi bastante verdadeiro e podia dizer as coisas com os olhos, que acho
muito interessante. Ele é muito bom ator. A tela é realmente o seu meio. Ele
não é musculoso, apenas um homem comum. Ele parece com o tipo físico de Desmond
Doss. A única coisa é que ele parece mais jovem do que é e acho que ele tem o
benefício de ter mais anos de sobra para alguns papeis.
Por que
você não interpretou o pai dele? Eu me lembro de que você interpretou William
Wallace apenas porque você precisava, para que fosse financiado. Você não
poderia fazer com o ator de sua escolha, Jason Patric. Não esteve tentado aqui
em fazer um papel grande?
GIBSON: Não. Não estive, logo que vi o
Hugo Weaving. Achei ele ótimo. Ele se tornou óbvio para o papel. Se tiver
alguém como Hugo, você tem que usar esse cara. Não posso fazer o que ele sabe
fazer.
Hugo Weaving (2º da esquerda para direita, Mel Gibson e Vince Vaughn |
Você
pensa no elenco quando dirigi, dizendo, Eu vou fazer esse papel se não achar o
cara certo?
GIBSON: Mais ou menos. Eu não quero, porque quando está
em algo e você também dirigi, no final da filmagem, você vai estar em uma
camisa de força e internado. Porque a carga de trabalho é imensa. Depois de
Coração Valente, eu não conseguia falar com ninguém por um mês. Isso, depois de
105 dias de filmagem. Eu estava acabado. Praticamente anestesiado na sala de
edição.
Por que
tanto tempo longe atrás das câmeras?
GIBSON: Quer que fale a verdade?
Claro.
GIBSON: Não sei se quero isso
publicado. Você saber por quê.
Gostaria
de saber mais sobre o que atrapalhou sua habilidade de dirigir. Não acho que vi
um filme melhor no ano em que saiu Apocalypto. Acho que as pessoas não o
olharam com atenção, mas foi um filme muito interessante. E dez anos se
passaram.
GIBSON: Fiquei extremamente orgulhoso desse
filme e da recepção que ele ainda tem até hoje.
Você vai
trabalhar com Sean Penn no filme O Professor e o Louco. Como foi que você
chegou a esse papel?
GIBSON: Na verdade, foi um livro que
foi trazido a nós pelo Luc Besson, que disse que o inglês não era a primeira
língua dele e esse filme é sobre a língua inglesa. Eu li o livro e parecia ser
um assunto árido, a criação do dicionário de inglês Oxford. Mas eu comecei a
ler e não consegui parar. Depois, você
fica sabendo da verdadeira compilação do maior compêndio já feito por uma
língua. Ninguém tem um dicionário como Oxford. Levou 70 anos para completar,
porque não havia computadores. (VIDE POST SOBRE ESSE FILME NESTE BLOG)
Um grande
contribuinte do dicionário estava confinado em uma instituição mental. Sean
Penn vai interpretá-lo?
GIBSON: Ele era americano. A coisa
interessante sobre o Dicionário de Oxford é que as duas pessoas que mais contribuíram
com ele não eram ingleses. Um era um escocês, chamado Dr. James Murray, que era
um autodidata. Ele sabia grego e latim e sabia as raízes e origem das palavras.
Oxford o contratou para essa tarefa gigantesca de fazer esse livro sobre a língua
inglesa, que tinha sido tentado algumas vezes por diferentes pessoas em outros
séculos. Samuel Johnson foi um.
A
mensagem desse filme é que a distância entre a genialidade e a loucura é da
espessura de uma navalha?
GIBSON: É bastante correto. James
Murray foi quem recebeu a incumbência, mas o homem que o ajudou mais, foi uma
pessoa com quem ele correspondia, um médico de um asilo de loucos. Murray ficou
curioso em saber como uma pessoa, que trabalhava como um médico nessa instituição,
poderia ter tempo para ler tanto e contribuir com tanto até mesmo a silabação
das palavras, a pronúncia, a etimologia, as origens. Aí então, ele vai visita-lo
e descobre que ele não é um médico trabalhando no lugar. Ele é um dos internados.
Ele foi colocado na instituição por ser criminalmente insano. Ele foi um tipo
extraordinário. Ele foi cirurgião na Guerra Civil e amputava as pernas dos
soldados. Ele deve ter visto tantas coisas ruins que provocou problemas em sua cabeça.
Uma ocasião, ele achava que alguém estava entrando na sua casa uma noite, pegou
seu revólver do exército, saiu na neblina da noite e atirou na primeira pessoa que
ele viu, achando que fosse alguma pessoa perigosa. Era apenas o homem do
carvão. Aí, ele percebeu que tinha feito a coisa errada e se arrependeu. No
final, decidiram que ele era louco e o colocaram nesse sanatório. Ele
finalmente saiu quando já era velho. Essas duas pessoas formaram um grande
amizade e uma história muito interessante. Sean Penn sempre gostou da ideia do
filme e conversamos a respeito várias vezes.
E sobre o
épico Viking?
GIBSON: Ainda está por aí. Randall
Wallace e eu já escrevemos. Ele vai sair em breve.
Você
realmente vê uma sequência para A Paixão de Cristo?
GIBSON: É algo sobre o que começamos a conversar. Uma
espécie de sequência, que começa na Ressureição, mas salta para antes disso, de
volta do Velho Testamento. O Velho Testamento é a pré-figuração de tudo e o Novo,
você pode correlacioná-los de uma maneira inteligente.
O que
mais tem de material que lhe interessou?
GIBSON: Há um para a TV, The Barbary
Coast. É uma estória escrita por uma pessoa chamada Herbert Asbury lá nos anos
30, sobre a cidade de São Francisco no tempo da corrida do ouro. No lugar que
era o México e depois de repente não é México mais e então o ouro foi descoberto.
Começa daí e vai até o terremoto de 1906. É uma estória extraordinária. Eles a
chamavam de Barbary Coast (Costa dos Bárbaros) porque era cheia de piratas, crimes,
gangsters e ganância.
Você está
trabalhando junto com Kurt Russell?
GIBSON: Kurt, a Kate Hudson, o filho de
Kurt, Wyatt, e Oliver Hudson. Eu estava falando com o meu gerente, Rick Nicita,
a respeito desse livro obscuro que eu li e que daria um bom filme. Ele disse
que o Kurt havia falado com ele sobre isso. Os filhos dele trouxeram o livro
para ele e disse por que vocês dois não se juntam. Eu trabalhei com o Kurt em
Conspiração Tequila (Tequila Sunrise, 1988), quando éramos novinhos. A TV tem
se tornado um veículo diferente e muito emocionante. A maneira de contar uma
história como a de Alexandre o Grande é pela televisão, porque é muito grande
para duas horas de filme. Há muitas estórias como essa.
Você tem
outras grandes estórias como a dos Macabeus: você vai leva-las para esse
formato?
GIBSON: Bem, inicialmente com esse livro,
eu estava pensando em um aspecto do livro que daria um bom filme e ainda posso
fazer isso. Mas a estória toda é gigante e o melhor modo de levá-la ao ar é
pela TV. Nós não temos ainda uma rede de TV por trás, mas vamos escrever e vou
dirigir alguns delas, talvez nem todas elas. Tem outros bons diretores por aí.
Sobre os Macabeus, eu ainda vou fazer também. É como o caso do Viking, está
sendo incubado. É a melhor estória do Velho Testamento. Como um western, mas a
175 antes de Cristo.
O filme
Viking parece muito ambicioso, também.
GIBSON: Bem, ninguém ainda viu. Eu o
vejo.
Bem, eles
não viram Paixão também...
GIBSON: Ou Apocalypto. Houve uma
época em que costumava colocar o bolso em meu próprio bolso, mas não estou
fazendo isso mais, porque você pode se queimar facilmente. Você pode ter um
filme de sucesso e ter todos os cinemas expondo o filme depois de uma semana,
que aconteceu com Apocalypto. Nas palavras de um velho e sábio contador, DOP. O
que é isso? Dinheiro de outras pessoas. Não é tão lucrativo se você tiver
sucesso, mas você consegue fazer e não precisa voltar a pé para casa.
Quando olha em retrospecto para esses filmes,
como por exemplo, The Bounty (Rebelião em Alto Mar, 1984), você tem boa
lembrança?
GIBSON: Foi muito difícil.
Hopkins como Bligh e Mel como Fletcher Christian |
Roger
Donaldson tinha um grande elenco: Daniel Day-Lewis, Liam Neeson, Laurence
Olivier e Anthony Hopkins.
GIBSON: Foi excelente. Eu era novo, 27 anos
e interpretava o Fletcher Christian. Foi um pouco estranho, mas foi um bom
filme. Se você tem uma escolha de uma direção em um filme, eu acho que a melhor
coisa foi o que Tony Hopkins fez. Ele interpretou o Capitão Bligh com toda a
honestidade e meio que exonerou Bligh de toda a culpa. Bligh não era um cara
ruim.
Ele acabou
ficando na estória como vilão.
GIBSON: Na verdade, Fletcher Christian era
um tipo de vilão. Eu quero dizer que não se coloca pessoas à deriva em um
pequeno barco no oceano para morrer, como ele fez. Não havia uma razão
suficientemente boa. Bligh e outros membros da tripulação não tinham feito nada
que merecesse esse tratamento. O que eles estavam tentando fazer era tornar o
Christian como o jovem, romântico e herói e ao mesmo exonerar Bligh, mas não se
podia fazer ambas as coisas. Eu acho que teria sido mais interessante mudar a
estória completamente para tornar Fletcher Christian o vilão da estória, porque
essa era a verdade. Ele era uma espécie de vilão. Bligh fez algo de
extraordinário. Uma viagem pelo mar aberto sem uma bússola e encontrou o
caminho para onde pretendia ir. É um fato inigualável da marinha até hoje. Ele
só tinha um defeito que era ser um cara muito perfeccionista e era duro demais
com os homens, que não chegavam ao seu padrão. Assim, a tripulação acumulou um grande
ressentimento em relação a ele, porque ele os repreendia. Mas ela era o capitão
e ele foi vilipendiando nas estórias.
FIM
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